A doença de Huntington (DH) é uma doença neurodegenerativa genética que leva à progressiva morte dos neurônios, causando alterações motoras, cognitivas e psiquiátricas que, juntas, impactam significativamente a qualidade de vida da pessoa com DH e sua família.
Embora a base genética da doença seja conhecida há mais de três décadas, a doença de Huntington permanece órfã de drogas aprovadas que possam retardar ou impedir a progressão da doença. Atualmente, 256 estudos clínicos para a doença já foram ou encontram-se em desenvolvimento no mundo todo. Destes, 141 estudos investigam os possíveis benefícios terapêuticos de drogas em investigação. No entanto, devido a falta de biomarcadores prognósticos, que possam ser usados para demonstrar os eventuais benefícios terapêuticos promovidos por estas drogas sob investigação, estes estudos se baseiam em parâmetros clinicos analisados pela escala internacional unificada para a doença de Huntington (UHDRS). Embora clinicamente importante, esta escala é altamente subjetiva, dificultando a análise de eficiência dos benefícios terapêuticos oferecidos por estas drogas em investigação. Além disso, a falta de alvos terapêuticos limita a capacidade de farmacêuticas desenvolverem novos produtos ou até mesmo reposicionar drogas já aprovadas para o tratamento da doença de Huntington.
Nesse sentido, pesquisadores brasileiros desenvolveram uma tecnologia inovadora que utiliza Data Analytics e Inteligência Artificial para analisar de forma inteligente dados genéticos provenientes de sequenciamento de RNA (RNA-Seq). Esta tecnologia, chamada de BDASeq, permite cruzar estes dados com características clínico-patológicas de pacientes, permitindo identificar alvos terapêuticos e/ou biomarcadores de interesse (bio)farmacêutico.
O estudo foi liderado pelo pesquisador Prof. Dr. Rodrigo Pinheiro Araldi, fundador da Biodecision Analytics e realizado por sua equipe, composta pelo Prof. Dr. João Rafael Dias Pinto, co-fundador da empresa e consultor em Data Analytics, e pelo MSc. Benedito Faustinoni Neto, consultor em estatística. O estudo foi apoiado pela Associação Brasil Huntington (ABH), pela International Huntington Association (IHA), pela Federação Brasileira de Alzheimer (FeBraz) e pelo Sindusfarma, e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP, Projeto PIPE).
Ao final do estudo, os pesquisadores analisaram mais de 2 TB de dados transcriptômicos, coletados de 292 indivíduos, disponíveis em repositórios públicos internacionais de dados genéticos. Usando o BDASeq, a BioDecision identificou 394 potenciais alvos terapêuticos para DH que nunca haviam sido identificados antes. Entre esses 394 alvos, o BDASeq identificou alvos específicos que, se modificados farmacologicamente, podem retardar o início da doença e até aumentar a expectativa de vida de indivíduos com DH. Além disso, o estudo identificou, pela primeira vez, um biomarcador que, por ser diferencialmente expresso no cérebro e no sangue, e por estar relacionado ao início da doença, pode ser usado como biomarcador para ensaios clínicos.
Tanto o modelo BDASeq quanto os resultados obtidos por essa metodologia foram premiados no maior evento de doenças raras do mundo. O projeto foi apresentado no MENA Congress for Rare Disease, realizado entre os dias 16 a 19 de maio de 2024, em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos. De acordo com os pesquisadores, os alvos identificados para DH também são úteis para o desenvolvimento de terapias que podem prevenir o envelhecimento natural do cérebro, oferecendo também oportunidades terapêuticas para doenças como Parkinson, Alzheimer e até mesmo ataxia de Friedreich.
A ABH tem como missão apoiar as pessoas impactadas pela DH e suas famílias. Ao apoiar pesquisas como essa, a associação cumpre um papel relevante para o avanço do conhecimento sobre a doença e para a busca por soluções que beneficiem diretamente a comunidade de DH em todo o mundo.
Em resumo, a ABH apoia o estudo por acreditar em seu potencial para transformar o tratamento da DH, melhorar a vida das pessoas afetadas pela doença e contribuir para o avanço da ciência.
Huntington: jamais irá degenerar nossa esperança!