HERANÇA GENÉTICA NA DOENÇA DE HUNTINGTON: ENTENDA O RISCO E A TRANSMISSÃO

Como a mutação genética afeta gerações e o que você precisa saber

O QUE É A HERANÇA GENÉTICA NA DOENÇA DE HUNTINGTON?

A Doença de Huntington é uma condição hereditária, o que significa que é transmitida de uma geração para outra através de um gene do DNA, especificamente por uma expansão na sequência CAG que codifica a produção de uma proteína chamada huntingtina (HTT). 

Essa sequência CAG é normalmente encontrada em variações de até 26 repetições, presentes em todos os seres humanos. No entanto, a DH ocorre quando o número de repetições é igual ou superior a 40. Se um dos pais possui o gene da DH, cada filho tem uma chance de 50% de herdá-lo. 

SUMÁRIO

PADRÃO AUTOSSÔMICO DOMINANTE

Cada filho com um dos pais afetado tem uma chance em duas, ou 50%, de herdar o gene que causa a DH, e é considerado “em risco” para a DH. Ilustração: Huntington's Disease Association/ABH (adaptado)

A herança da DH segue um padrão autossômico dominante. Isso significa que, se uma pessoa herda o gene alterado de um dos pais, ela desenvolverá a doença em algum momento da vida, desde que viva o suficiente para isso. Porém, a presença da mutação genética não significa que os sintomas aparecerão imediatamente; eles geralmente se manifestam entre os 30 e 50 anos, mas podem surgir antes ou depois dessa faixa etária.

Para a maioria dos casos, dizemos que a DH não pula gerações; assim, quem possui o gene mutado irá desenvolver a doença e terá o risco de transmiti-la, e o contrário também é verdadeiro: quem não herdou o gene, não a desenvolverá e nem será capaz de passar o gene adiante.

Por ser autossômica dominante, a DH:

  • incide em proporções semelhantes em ambos os sexos;
  • tanto as mulheres como os homens afetados têm probabilidade de transmitir a doença aos seus descendentes; 
  • basta que um dos genitores tenha a DH (pai ou mãe, não importa qual) para que cada indivíduo da prole tenha 50% de probabilidade de apresentar a doença;
  • os filhos que não herdarem o gene alterado responsável pela doença não a transmitem para seus descendentes;
  • todos os filhos que herdam o gene desenvolverão a doença em algum momento de sua vida.

Quem possui o gene mutado irá desenvolver a doença e terá o risco de transmiti-la, e o contrário também é verdadeiro: quem não herdou o gene, não a desenvolverá e nem será capaz de passar o gene adiante.

FAIXA DAS REPETIÇÕES CAG

Faixas das repetições CAG encontradas na DH e seu significado clínico. Ilustração: Huntington's Disease Association/ABH (adaptado)

No entanto, existem algumas nuances na transmissão do gene. Sequências de repetições entre 27 e 35 são consideradas normais, mas, em casos raros, podem aumentar para uma quantidade anormal na próxima geração, especialmente se transmitidas pelo pai. Além disso, sequências entre 36 e 39, conhecidas como “zona cinza”, podem ou não resultar em sintomas, e indivíduos com essa variação podem transmitir um número igual ou maior de repetições para seus filhos, mantendo o risco da doença.

EXAME DIAGNÓSTICO

A única maneira de confirmar se uma pessoa herdou ou não o gene alterado é através de um teste genético. Para aqueles que não apresentam sintomas, esse teste é classificado como teste preditivo e é importante que seja acompanhado de:

  • Aconselhamento Genético: para discutir os possíveis resultados e suas implicações.
  • Suporte Psicológico: para preparar o indivíduo para as possíveis consequências emocionais do resultado do teste.

Um teste positivo pode fornecer uma resposta clara, mas traz consigo uma enorme carga emocional, já que não há cura para a doença. Decidir se deve ou não fazer o teste preditivo envolve questões éticas e emocionais, pois o resultado pode influenciar decisões sobre ter filhos, planejar o futuro e organizar os cuidados de saúde.

A DH é considerada uma doença rara, por isso alguns profissionais têm dificuldade em diagnosticar de imediato, o que pode gerar demora ou erros frequentes nos diagnósticos, isto em qualquer local do país. Então, a primeira coisa que precisa ser feita para o diagnóstico é realizar uma consulta com um médico neurologista ou geneticista, preferencialmente que tenha experiência em atendimento a pacientes com DH.

IMPORTANTE!

O portal da ABH oferece informações sobre a Doença de Huntington com o objetivo de disseminar conhecimento e oferecer suporte à comunidade. 

No entanto, o conteúdo aqui apresentado não substitui a consulta com um profissional de saúde. Para questões médicas específicas, busque sempre a orientação de um médico ou especialista.

O IMPACTO DA HERANÇA GENÉTICA NA FAMÍLIA

O caráter hereditário da doença de Huntington gera uma carga psicológica e social em toda a família, que pode viver em um ciclo complexo de expectativa, medo, cuidado e luto. 

Mesmo aqueles que não têm a mutação podem experimentar sentimentos intensos de “culpa de sobrevivente” por não terem herdado a doença enquanto outros parentes próximos, como irmãos, são diagnosticados. Por outro lado, aqueles que sabem que têm a mutação podem sofrer depressão, ansiedade e outros transtornos psiquiátricos relacionados ao conhecimento de um futuro com a DH.

Um dos motivos da DH ser considerada uma doença familiar é devido ao impacto que causa em toda a família. Foto: Pexels

Além disso, os cuidadores, muitas vezes familiares próximos ou até pessoas em risco, enfrentam o desgaste emocional de assistirem seus entes queridos em risco ou desenvolvendo sintomas da doença. O cuidado a longo prazo pode resultar em exaustão física e emocional, além de problemas de relacionamento entre os membros da família.

Em algumas famílias, o medo de ser julgado pode levar ao isolamento social ou à ocultação do histórico familiar de DH.

Isso ocorre devido ao estigma que muitas vezes acompanha doenças hereditárias e neurodegenerativas, gerando preocupações sobre como amigos, relacionamentos românticos, vizinhos, colegas de trabalho e até mesmo instituições de saúde ou empregadores podem reagir ao conhecimento da doença.

Esse receio de discriminação pode resultar em um silêncio coletivo dentro da família, onde a doença não é discutida abertamente, nem mesmo entre parentes próximos. Em alguns casos, pais podem escolher não contar a seus filhos sobre a possibilidade de herança genética, ou parentes podem evitar buscar ajuda médica ou psicológica para não levantar suspeitas sobre a doença.

No entanto, esse tipo de ocultação pode aumentar o sofrimento emocional e psicológico, pois a falta de compartilhamento impede que a família receba o apoio emocional e social necessário para lidar com os desafios da doença.

A ABH oferece suporte para ajudar as famílias a entenderem as implicações da herança genética e a tomarem decisões informadas. Estamos aqui para apoiar você em cada etapa dessa jornada.